Fim do 1º ato

O Cénico – blog de teatro de Maringá completa três meses e encerra a primeira fase do laboratório. A partir de agora, esta página entrará em hiatus e ficará um tempo sem atualização, essa página que aos poucos foi se tornando lugar comum para algumas pessoas interessadas em teatro – surpreendendo em número de acessos, diga-se de passagem.

Como ferramenta experimental, o Cénico provou um pouco da recepção que um tema específico traria a blogosfera maringaense. Com divulgação restrita á redes sociais, alcançou marcas incríveis até para um site de conteúdo regional. Aprovada a iniciativa, partimos então para o segundo ato.

Novas seções, novas categorias, nova abordagem e inclinação textual. Uma mudança relativamente significativa, porém, só será possível após um período de pesquisa em comunicação e jornalismo especializado, um trabalho mais próximo da classe artística e uma investigação mais precisa do público alvo e das formas de divulgação.

Sob essa competência, o Cénico se prepara para um segundo ato ainda mais atrativo e substancial.

Cai o pano.


CRAVE

Em Crave, o universo das relações amorosas com seus mecanismos de violência é abordado por meio de quatro vozes, designadas por A, B, C e M (que apresentam apenas gêneros definidos e idades diferenciadas). Crave trabalha com um fluxo de uma série de pensamentos fragilmente conectados. Apesar da abstração sugerida pela própria falta de “figuração” do corpo humano e pela falta de identidades fixas, as falas são predominantemente secas e precisas. E sua pesquisa dramatúrgica privilegia, em geral, a musicalidade. Kane sublinhava que trabalhou aí como uma compositora, ao contrário do procedimento mais usual, no qual costumava saber o que queria dizer antes de criar a fala. No caso de Crave, tinha mais claramente a noção do ritmo que queria, antes mesmo de saber o que dizer. Em todas as peças, Kane usa indicações tipográficas para silêncio, respiração, pontuação etc. Em Crave esta precisão se torna crucial. Na primeira leitura dramática de Crave, Kane tenta se desvencilhar da expectativa em torno do mito de autora rebelde e usa o pseudônimo Marie Kelvedon.

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CLEANSED

Um forte câmbio de identidades é trabalhado nas personagens de Cleansed alterando seus posicionamentos dentro das relações com os outros, seus nomes próprios e até gêneros e corpos físicos. Há em Cleansed camadas que diferem as personagens em níveis de figuração mais ou menos delineados. É possível dividi-la em pelo menos quatro camadas: uma correspondente a Grace, Tinker, Rod, Carl e Robin; a segunda que envolve Graham; a terceira referente à “mulher”; a quarta, das “vozes” e ainda uma camada limítrofe de figurações de fenômenos vivos, como um coro de ratos e as flores que nascem e crescem repentinamente no meio da cena.

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PHAEDRA’S LOVE

Phaedra’s Love é uma adaptação da tragédia de Sêneca, que faz também uma paródia da família real na Inglaterra. A estrutura dramatúrgica de Phaedra’s Love apresenta personagens mais unificados, com identidades fixas e um “enredo” mais tradicional em relação às demais peças de Kane. Trata-se de um “formato” de sátira, apresentando também muitas características que definem o “In-yer-face theatre” (como sexo, violência e palavrões), apesar de Kane resistir a ser rotulada como pertencente a este ou aquele movimento. Há, de todo modo, algo mais “confortável” no pacto que Phaedra’s Love estabelece com o público. As personagens são mais caricaturais, pintadas em tons fortes, lembrando Histórias em Quadrinhos, ou desenhos animados para adultos. Os próprios nomes indicam um distanciamento e ao mesmo tempo apontam para a tragédia: Phaedra, Hipólito, Teseu e Strofe.

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BLASTED!

Autor: Juliana Pamplona, Direto da Questão de Crítica.

Blasted se constrói em torno de uma relação abusiva entre Ian (um homem de quarenta e cinco anos) e Cate (uma jovem de vinte e um) com problemas mentais. A primeira parte de Blasted se passa num quarto de hotel onde uma relação desigual e violenta é evidenciada entre eles graças a uma economia de palavras que compõe falas pungentes. O desdobramento se dá quando uma explosão (indicada por um buraco de bomba no cenário) torna esta relação íntima um espelho para um mundo em guerra. No ambiente do hotel detonado, um novo personagem ganha foco, um soldado anônimo. A lógica da guerra toma conta das relações e Ian passa do pólo de torturador de Cate para o de vítima do soldado. A peça apresenta uma série de horrores: amputação, canibalismo, estupro, tortura etc. As personagens falam de maneira crua e seca.

A representação da violência também apresenta inúmeros desafios. A própria encenação é convidada a achar recursos figurativos que deem conta de imagens de intensidades extremas que não poderiam ser representadas naturalisticamente. Imagens como a de um personagem em estado deplorável – cego e faminto em situação de guerra, que come um bebê morto, fazem deste pacto de recepção do público, “um pacto difícil”. Porém há uma especificidade nesta questão das imagens teatrais: elas devem se apresentar como teatrais. Não há nesta ação um esforço cênico de que a cena do canibalismo, por exemplo, pareça “real”, entretanto, a própria indicação em cena de que isto é feito suscita repulsa pela parte do público que não se propuser imaginar o ato.

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Descalça?, hoje no Barracão

“Não se nasce mulher: torna-se”. A famosa frase de Simone de Beauvoir não resume este espetáculo, mas serve bem para apontar um de seus pontos cruciais. Sem dúvida, na construção da mulher, a relação mãe / filha é fundamental e é justamente o feminino – sua construção, seu lugar no mundo, sua condição – a partir dessa relação, o que o trabalho aborda. Nunca, num viés determinista em que a mulher mãe e a educação que dela provém fazem a mulher filha, mas na perspectiva de que a interação entre as duas é constitutiva de ambas. Para tanto, a psicanálise, a literatura e relatos pessoais foram tomados como referências. São histórias de 24 mulheres que serão interpretadas ou narradas por 02 atrizes.
Duração: 40 minutos

Histórico do espetáculo
O espetáculo “Descalça?” É o primeiro trabalho do Grupo Beta de Teatro e é resultado de 2 anos de processo. O grupo partiu de uma idéia e iniciou pesquisa teórica e prática sobre o assunto, firmou parceria com o Grupo Z de teatro, cujos artistas participaram da montagem. Utilizaram-se do processo colaborativo de criação, por acreditarem na importância dos papéis de todos os artistas envolvidos no processo.
O espetáculo recebeu 02 prêmios para sua montagem: “Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz 2008” e o “Edital de Residência Artística da Secretaria Estadual de Cultura do Espírito Santo 2009”.
Através deste Edital de Residência Artística, o espetáculo pôde trabalhar com a diretora paulista Aline Ferraz, que junto com Fernando Marques dirigiu o espetáculo.
Além dos prêmios de montagem, após a estréia, o espetáculo foi contemplado por mais dois prêmios, ambos de circulação: Prêmio Funarte de teatro Myriam Muniz 2010 e Edital de Circulação da Secretaria estadual de cultura do Espírito Santo.
O Prêmio Funarte de teatro Myriam Muniz 2010 promoverá a circulação do espetáculo por cinco regiões, em 9 cidades, com o total de 15 apresentações e bate-papos.

Ficha técnica completa do espetáculo:

Direção: Aline Ferraz e Fernando Marques
Dramaturgia: Fernando Marques / Elenco: Telma Smith e Lorena Campoi / Produção: Telma Smith e Lorena Campoi
Preparação corporal: Francina Flores / Cenário, figurino e adereços: Francina Flores/ Concepção de Luz: Carla van den Bergen

Montagem e Operação de Luz: Daniel Boone / Operação de Som: Carla van den Bergen
Designer gráfico: Fernando Marques / Gravação de Violino: Eliézer de Almeida / Fotos: Ivna Messina

DIA   11 de fevereiro

Às 21h  no  Teatro Barracão  /  Idade Mínima:  12 anos  /  Entrada Franca.

INFORMAÇÕES: 44 3262-3232

 

“Não se nasce mulher: torna-se”. A famosa frase de Simone de Beauvoir não resume este espetáculo, mas serve bem para apontar um de seus pontos cruciais. Sem dúvida, na construção da mulher, a relação mãe / filha é fundamental e é justamente o feminino – sua construção, seu lugar no mundo, sua condição – a partir dessa relação, o que o trabalho aborda. Nunca, num viés determinista em que a mulher mãe e a educação que dela provém fazem a mulher filha, mas na perspectiva de que a interação entre as duas é constitutiva de ambas. Para tanto, a psicanálise, a literatura e relatos pessoais foram tomados como referências. São histórias de 24 mulheres que serão interpretadas ou narradas por 02 atrizes.

Duração: 40 minutos

Histórico do espetáculo

O espetáculo “Descalça?” É o primeiro trabalho do Grupo Beta de Teatro e é resultado de 2 anos de processo. O grupo partiu de uma idéia e iniciou pesquisa teórica e prática sobre o assunto, firmou parceria com o Grupo Z de teatro, cujos artistas participaram da montagem. Utilizaram-se do processo colaborativo de criação, por acreditarem na importância dos papéis de todos os artistas envolvidos no processo.

O espetáculo recebeu 02 prêmios para sua montagem: “Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz 2008” e o “Edital de Residência Artística da Secretaria Estadual de Cultura do Espírito Santo 2009”.

Através deste Edital de Residência Artística, o espetáculo pôde trabalhar com a diretora paulista Aline Ferraz, que junto com Fernando Marques dirigiu o espetáculo.

Além dos prêmios de montagem, após a estréia, o espetáculo foi contemplado por mais dois prêmios, ambos de circulação: Prêmio Funarte de teatro Myriam Muniz 2010 e Edital de Circulação da Secretaria estadual de cultura do Espírito Santo.

O Prêmio Funarte de teatro Myriam Muniz 2010 promoverá a circulação do espetáculo por cinco regiões, em 9 cidades, com o total de 15 apresentações e bate-papos.

Ficha técnica completa do espetáculo:

Direção: Aline Ferraz e Fernando Marques

Dramaturgia: Fernando Marques

Elenco: Telma Smith e Lorena Campoi

Produção: Telma Smith e Lorena Campoi

Preparação corporal: Francina Flores

Cenário, figurino e adereços: Francina Flores

Concepção de Luz: Carla van den Bergen

Montagem e Operação de Luz: Daniel Boone

Operação de Som: Carla van den Bergen

Designer gráfico: Fernando Marques

Gravação de Violino: Eliézer de Almeida

Fotos: Ivna Messina

DIA 11 de fevereiro

Às 21h

No Teatro Barracão

ESPETÁCULO TEATRAL “DESCALÇA ?”

IDADE MÍNIMA 12 anos

Isento de Custo

INFORMAÇÕES: 44 3262-3232

 


Confira os espetáculos do Festival de Curitiba

Pausa. Não poderia citar mais uma vez o Caderno G sem lembrá-los que uma grande cena teatral só é possível com veículos de comunicação que a represente devidamente. E nisso, a Gazeta do Povo cumpre bem o trabalho – legado deixado por Luciana Romagnolli, ex-setorista de teatro da capital, agora no mineiro O Tempo e blogueira do Travessias Culturais. Agora vamos ao que interessa:

Foto: Pablo Pinheiro.

Entre os dias 29 de março e 10 de abril, 31 espetáculos serão apresentados em diversos espaços da capital paranaense

O Festival de Curitiba anunciou nesta quarta-feira (9) as peças que compõe a programação da Mostra Principal. Entre os dias 29 de março e 10 de abril, 31 espetáculos serão apresentados em diversos espaços da capital paranaense.

Os ingressos serão vendidos a R$ 50 (inteira) a partir do dia 15 de fevereiro. A organização informou que a programação e os locais dos espetáculos podem ser alterados.

Confira abaixo a programação da Mostra Principal no Guia Gazeta do Povo:

“…” (Reticências)

A História do Homem que Ouve Mozart e da Moça do Lado que Escuta o Homem

Adultério

Anjo Negro

Antes da Coisa Toda Começar

As Próximas Horas Serão Definitivas

Comédia Russa

DNA, Somos Todos Muito Iguais

É Com Esse Que Eu Vou…

Édipo

Estilhaços

Inverno da Luz Vermelha

Labirinto

Ligações Perigosas

Marina

Marlene Dietrich

Me Salve, Musical

O Livro

O Último Stand Up

Os 39 Degraus

Pedras nos Bolsos

Preferiria Não?

Savana Glacial

Sete Por Dois

Sobre Trilhas Sonoras de Amor Perdidas

Sonhos Para Vestir

Sua Incelença, Ricardo III

Tathyana

Tercer Cuerpo

Tio Vânia

Um Coração Fraco


Festival de Curitiba atrai jovem cena teatral do Rio


Foto: Analu Prestes / Divulgação

Texto de: Lucas Neves, direto da Folha Ilustrada.

A cena carioca desembarca com uma delegação numerosa na capital paranaense, na próxima edição do Festival de Curitiba, que acontece de 29/3 a 10/4. A programação oficial será divulgada hoje, mas a Folha levantou os nomes de cerca de 20 espetáculos escalados para a principal seção do evento, a Mostra Contemporânea.

Essa divisão do festival tem, habitualmente, entre 20 e 25 montagens.

A representação do Rio é capitaneada por dramaturgos e diretores jovens, que vêm acumulando prêmios e elogios da crítica. Pedro Brício mostra sua “Comédia Russa” (com direção de João Fonseca), sobre a burocracia numa repartição pública.

Também leva na mala “Me Salve, Musical!”, em que um saguão de aeroporto entra em quarentena após uma suspeita de vírus –que empresta doses cavalares de felicidade a suas vítimas.

Já o dramaturgo Jô Bilac apresenta “Savana Glacial”, retrato de uma mulher que sofre de perda de memória recente e vê seu discreto sofrimento ser devassado por uma vizinha.

Autora de “Por uma Vida um Pouco Menos Ordinária”, Daniela Pereira de Carvalho reprisa a parceria com o diretor Gilberto Gawronski em “As Próximas Horas Serão Definitivas”.

Completam a ala carioca “Antes de a Coisa Toda Começar”, da Armazém Cia., o musical “É com Esse que eu Vou”, de Charles Moëller e Claudio Botelho, “Tathyana”, espetáculo da Cia. de Dança Deborah Colker baseado na obra de Púchkin, “Labirinto”, amarração de textos de Qorpo Santo por Moacir Chaves e sua recém-criada cia. Alfândega 88, “Um Coração Fraco”, adaptação de Domingos Oliveira para Dostoiévski, “O Livro”, monólogo escrito por Newton Moreno e dirigido por Christiane Jatahy, e “Marina”, da Cia. PeQuod, que mescla Hans Christian Andersen e Dorival Caymmi.

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Personagens nas peças de Sarah Kane

Breve estudo sobre a dramaturgia da autora inglesa

Autor: Juliana Pamplona, Direto da Questão de Crítica.

Sarah Kane trabalha com a (des)figuração como um dos elementos -chave que atravessa o corpo das personagens e que repercute, de maneira intensa, na estrutura dramática do texto. Na desfiguração das personagens, o corpo é levado a estados intensos, como a amputação e o gozo, até a figuração mínima onde há apenas vozes. A fala seca e precisa, por vezes lacônica e “insuficiente”, funciona como uma extensão deste “corpo” cuja voz e discurso são explorados quando “não é possível dizer nada”. As identidades desfeitas ou não fixas também são características presentes na investigação dramatúrgica de Sarah Kane, em que o lugar de onde estas vozes falam (especialmente em Crave e 4.48 Psychosis) é constantemente desestabilizado. Estruturalmente, os elementos como o tempo, o espaço também sofrem desestabilizações, onde convenções de unidade e definições precisas são transgredidas ou simplesmente não são oferecidas ao público.

O tempo – que é tratado ora de modo impreciso, ora obedecendo a um ritmo rigoroso – é (des)construído por elementos diversos como a repetição, a desarticulação das falas, as respirações pontuadas etc. O espaço, igualmente instável, é desestabilizado por meio de recursos como a detonação radical do cenário entre uma cena e outra, a inserção de personagens de outro “contexto”, a ligação frágil entre as cenas; o “sentido” analógico das relações interpessoais entre personagens, nas quais o espaço, ao invés de ponto de apoio, ganha mobilidade ou permanece indefinido. A noção de “enredo” também é desconstruída de maneira progressiva ao longo das cinco peças de Kane, implicando numa ação que oscila entre a atrofia de sua importância para a estrutura dramática e a construção de fluxos de ações, que se dão apenas através das falas, ações de sustentabilidade.

O presente texto faz parte de uma série de estudos realizados durante o meu período de mestrado em Artes Cênicas na UNIRIO (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro) e aborda as cinco peças da autora inglesa Sarah Kane (1971 – 1999) a partir das convenções de personagens.


A nova onda da dramaturgia

Olívia D’Agnoluzzo/Divulgação

Direto do Caderno G.

Após décadas em que o texto foi preterido no teatro nacional em favor de outras dramaturgias – da dança, do corpo, da estética – uma nova onda de estudiosos da palavra valoriza peças de autor. Um estímulo para isso foi a criação do Núcleo de Dramaturgia do Serviço Social da Indústria (Sesi). Em Curitiba, ele existe desde 2009.

“Muita gente ainda acha que escrever teatro é esperar baixar um ‘exu’, mas não é nada disso, há muito estudo e estratégia para construir uma grande obra”, diz o coordenador do núcleo, Marcos Damaceno. “É preciso ao menos conhecer as técnicas que existem.”

Entrando em sua terceira turma, o núcleo curitibano se prepara para mostrar no Fringe, mostra paralela do Festival de Curitiba, a partir de 29 de março, o que anda fazendo quinzenalmente no teatro José Maria Santos.

Entre 17 peças escritas por participantes e que devem ser publicadas em conjunto, uma será selecionada para montagem e apresentação dentro do Fringe. A escolha dos curadores Luiz Fernando Ramos e Gabriela Melão deve ocorrer nesta quinta-feira. Outros cinco textos serão apresentados em leitura dramática. No festival do ano passado, foi montada e encenada a peça Como Se Eu Fosse o Mundo.

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